Friday, January 16, 2015

A luz depois do fracasso: como se preparar para os obstáculos do empreendedorismo


“Um milhão de dólares não é legal. Você sabe o que é legal? Um bilhão de dólares!” Assim falou a personagem de Justin Timberlake no filme “A Rede Social”, que traduziu a ambição e o otimismo de milhões de jovens empreendedores mundo afora. Contudo, ao negligenciar as chances de fracasso, muitos deles mal se preparam para a trilha de desilusões que irão percorrer. Com isso em mente, Raissa Klain e Ibrahim Cesar usaram o Catarse para financiar o livro “Caia na Real”, que alerta os empreendedores de primeira viagem para os desafios à sua frente. Leia abaixo!



Por Diogo Cysne

“Empreendedorismo” é a palavra e o estilo de vida da vez. Praticamente desconhecido no início dos anos 2000, o termo teve uma ascensão meteórica no Brasil e no mundo com o crescimento do setor de tecnologia e informação. Visionários como Bill Gates, Steve Jobs ou Mark Zuckerberg, com suas fortunas bilionárias feitas praticamente do zero, inspiraram uma geração de jovens a se lançar na “corrida do ouro” digital, e filmes como “A Rede Social”, de 2010, só reforçaram este frenesi.


Por baixo de todo o brilho, entretanto, há um cenário de estresse, desilusão, aperto financeiro, insegurança e... fracasso. Sim, a palavra mais temida por muitos empreendedores é, de fato, a realidade ingrata da maioria. Inspirados em casos de sucesso aparentemente instantâneos, muitos ignoram o número e a intensidade dos sacrifícios necessários para um empreendimento deslanchar.


Cientes desta desconexão entre sonho e realidade, os empreendedores Raissa Klain e Ibrahim Cesar (imagem abaixo) buscaram o Catarse para financiar a publicação do livro “Caia na Real”, uma compilação de experiências pessoais, erros e dificuldades mais comuns encontrados por quem trilha o caminho do empreendedorismo.


“Era um mix de nossa biografia e obstáculos do empreendedorismo, e como eles influenciaram positiva ou negativamente nossa trajetória”, conta Raissa. Para Ibrahim, o livro era “um guia de lições aprendidas”, abordando “toda a jornada de uma startup, desde sua concepção até o contato com investidores, passando por dificuldades financeiras, brigas e os desafios para sua validação no mercado.”


Coração empreendedor, corpo sem tempo


Infelizmente (mas com certa carga de ironia), o livro não resistiu aos obstáculos e conheceu o mesmo destino de muitos projetos do Catarse: não foi financiado. Após dois meses de campanha, dos treze mil reais necessários para seu financiamento, pouco mais de dois mil foram arrecadados.


Sobre os motivos do fracasso, Ibrahim é direto: “faltou compromisso. Nós estávamos sem tempo para estimular a rede e realmente fazer campanha.” O timing do lançamento do projeto também não foi dos melhores, de acordo com Raissa: “o projeto começou logo quando surgiram turbulências em outros empreendimentos e problemas pessoais.”


Na época da campanha, Raissa atuava como gerente de operações para a Blumpa, serviço de contratação de profissionais limpeza co-fundado por Ibrahim. O trabalho exigia de 12 a 14 horas de trabalho por dia, incluindo fins de semana. O pouco espaço que restava na agenda dos dois era disputado por projetos paralelos, como a organização de conferências TED e a parceria com a empresa “Germinadora”.


“Fazer uma campanha de crowdfunding requer muita, mas muita dedicação”, admite a empreendedora, que hoje coordena as operações da Webhome, empresa de contratação de serviços domésticos. “Você tem que estar disposto para alcançar seu objetivo, o que nem sempre acontece.”


A dor (e a necessidade) do fracasso




Além da rotina impiedosa de trabalho, empreender é uma atividade de altíssimo risco: nos EUA, estima-se que oito em cada dez negócios fracassam em menos de 18 meses. Uma revista britânica chegou a descrever os empreendedores novatos da seguinte maneira: “eles têm a segurança de emprego de freelancers, a preocupação financeira de apostadores crônicos de jogos de azar e a vida social de ermitões.”

Em teoria, o fracasso tem posição de destaque no meio empreendedor. O lema não oficial do Vale do Silício até sugere um culto ao fracasso: fail fast and fail often, ou “falhe rápido e falhe com frequência”. Os autores de “Caia na Real”, entretanto, concordam que há uma grande diferença entre o discurso e a prática.


“Ninguém quer aprender com quem falhou!”, desabafa Raissa. “As pessoas não querem arregaçar as mangas, por isso procuram receitas de sucesso.” Ibrahim complementa: “fala-se dos fracassos com distanciamento, e só quando se consegue provar que os problemas foram superados.”


Apesar de ambos confessarem frustração ao não atingir um objetivo, eles enfatizam que, sem fracasso, não há oportunidade para o empreendedor se reavaliar: “não atingir um objetivo não significa necessariamente que você falhou”, diz Ibrahim. “Talvez sua expectativa estivesse errada no momento da concepção. O fracasso é oportunidade para refletir.”


Como não fracassar no crowdfunding


Mesmo que o “Caia na Real” não tenha atingido sua meta, os dois garantem que o projeto está longe do fim. “Ainda estamos falando com editoras”, assegura Ibrahim. Se nada der certo, “vamos lançar na rede. De qualquer modo, nós o publicaremos.”


Literatura é uma das categorias mais bem representadas do Catarse: de cada cem projetos criados, nove são livros. Com as lições aprendidas, os dois autores dão dicas sobre como aumentar suas chances de sucesso no financiamento coletivo. “Planeje todo o ciclo de vida da campanha e mapeie quem são seus doadores”, enfatiza Ibrahim.


Para Raissa, na hora da interação com o público, o contato individual ainda é imprescindível: “você tem que se comunicar com as pessoas individualmente sobre seu projeto. Ninguém gosta de spam e mensagens em grupo.”


É claro, deve-se ter em mente que, mesmo se um projeto seguir à risca todos esses conselhos e tomar todas as precauções possíveis, isso não significa que seu sucesso será garantido. No fim das contas, nada é garantido quando se empreende - somente a esperança de que um dia, como disse Steve Jobs, o empreendedor conseguirá “fazer um ruído no Universo”.

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